O projeto “Repercussões das crenças, valores e atitudes sobre inclusão no processo de desenvolvimento da pessoa com deficiência na escola” foi executado por professoras do Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia da Universidade Católica de Brasília (UCB) juntamente com estudantes de graduação e de pós-graduação. A coordenação ficou a cargo da professora Cláudia Cristina Fukuda, que recebeu apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) por meio do Edital 13/2016, voltado exclusivamente para seleção de propostas dedicadas à temática da educação inclusiva.
A pesquisa foi desenvolvida, no período de junho de 2017 a junho de 2020, com base no método misto e organizada em quatro estudos divididos em dois eixos: [1] buscou descrever o macrocontexto no âmbito da inclusão e [2] testou ações que facilitam o processo de alfabetização e socialização de estudantes com deficiência intelectual.
Dentro dos dois eixos norteadores, o projeto dedicou-se a:
a) Descrever as crenças, valores e atitudes sobre inclusão nas escolas públicas do DF;
b) Mapear práticas pedagógicas positivas para a aprendizagem de estudantes com deficiência e seus desafios para os docentes;
c) Analisar o impacto do uso de programas computacionais no processo de alfabetização de crianças com deficiência intelectual;
d) Relacionar o aumento da rede social (maior participação social) com o desempenho acadêmico de estudantes com deficiência, com o propósito de fomentar processos de inclusão em escolas públicas do Distrito Federal e para a formação de uma rede de pesquisa multidisciplinar sobre Educação Inclusiva.
Metodologia
Para realizar a descrição das crenças, valores e atitudes frente à Educação Inclusiva foi feita revisão sistemática de literatura, paralelamente à adaptação e validação de duas escalas de medidas de atitudes: Teachers’ Attitudes towards Inclusive Education Scale (TAIS) (Saloviita, 2015) e a escala Teacher Efficacy for Inclusive Practices (TEIP) (Sharam et. al, 2012). A síntese das traduções e as escalas foram formatadas em um único questionário com 43 perguntas, aplicado a 363 professores de diferentes escolas públicas do Distrito Federal. Os resultados apontaram que estes apresentavam atitudes mais positivas do que negativas em relação à Educação Inclusiva e que, quanto mais positiva a atitude, maior a percepção dos professores de sua capacidade para ensinar estudantes com deficiência.
Também foram analisadas seis entrevistas realizadas com diferentes professores de escolas públicas do Distrito Federal sobre Educação Inclusiva. Os resultados obtidos demonstraram um distanciamento entre as concepções de inclusão dos professores e sua efetivação na prática docente. Além disso, as professoras percebiam barreiras de ordem estrutural e social para a efetivação da Educação Inclusiva. Destaca-se a percepção de falta de formação e preparo para lidar com o estudante com deficiência. Uma das professoras afirmou que “na faculdade é muita teoria, é muito bonito, mas quando você vai pra prática você sente mesmo o quanto que é difícil, porque os professores não são preparados pela Secretaria, pra trabalhar com inclusão”. De acordo com a coordenadora da pesquisa, a necessidade de treinamento formada em serviço é apontada também pela literatura científica como uma barreira importante para a Educação Inclusiva.
Mapeamento de práticas pedagógicas
Para o mapeamento de práticas educacionais exitosas para a inclusão de estudantes com deficiência em escola pública do DF, foram realizadas entrevistas com professores da sala regular, professores da sala de recursos, com profissionais do apoio pedagógico, da secretaria escolar e com o diretor e vice-diretor. Todas as entrevistas foram gravadas, transcritas e revisadas. Após a análise de conteúdo das entrevistas, Cláudia Fukuda e sua equipe concluíram que as metodologias utilizadas pelas professoras eram coerentes com a concepção de práticas pedagógicas inclusivas. Além disso, o grupo observou que as principais dificuldades para viabilização do processo de inclusão, segundo as docentes, encontram-se na efetivação das políticas públicas voltadas à educação.
Programas computacionais no processo de alfabetização de crianças com deficiência intelectual
O escopo do projeto incluiu a proposta de analisar o impacto do uso de programas computacionais no processo de alfabetização de crianças com deficiência, além da revisão da literatura científica na área. Para tanto, foi realizado treinamento da equipe para a coleta dos dados com aplicação do teste de inteligência e do teste de propensão para a alfabetização, além do uso do programa computacional de ensino de leitura e escrita. A coleta de dados do projeto foi realizada na Escola Classe 11 de Taguatinga (EC 11), devido à maior receptividade da instituição que disponibilizou computadores para o funcionamento do Gerenciador de Ensino Individualizado por Computador (GEIC), acesso à internet e sala com pouca interferência externa.
Esta etapa do estudo contou com a participação de 16 estudantes e observou variabilidade entres os resultados em leitura, sendo superiores aos de escrita. No caso da leitura expressiva, os maiores percentuais de acerto foram observados na nomeação de vogais, enquanto os menores índices foram identificados na nomeação de texto (palavras) para a maioria dos participantes. Nas tarefas de escrita maiores percentuais de acerto foram observados em cópia por composição.
Rede social e desempenho acadêmico
O estudo teve como objetivo relacionar o aumento da rede social com o desempenho acadêmico de estudantes com deficiência. Foi realizado levantamento da literatura nacional e internacional sobre rede social de pessoas com deficiência intelectual e realizada aplicação do instrumento Social Network Guide – SNG (Forrest-Jones et al., 2007), em parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), na Escola Classe 11 de Taguatinga (EC 11). Após levantamento dos estudantes com deficiência intelectual, foi feito o envio de convite pela escola e assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos pais e responsáveis.
Os pesquisadores observaram que a rede de apoio social dos adolescentes com deficiência intelectual é composta majoritariamente pela família, além de uma rede ínfima de colegas no âmbito escolar. Diante disto, eles concluíram que o adolescente com deficiência intelectual deve ser orientado a participar ativamente da construção de sua própria história, levando em consideração que o ser humano não se constitui sozinho e está imerso em fatores históricos e sociais.
Produtos gerados pela pesquisa
Dentre as principais produções do projeto, os pesquisadores destacam artigo de revisão sistemática de literatura intitulado “Atitudes de Professores da Educação Básica sobre Educação Inclusiva: Uma Revisão da Literatura”, submetido para publicação na Revista Brasileira de Educação Especial. Também foi produzido um capítulo para o livro “Mapeamento dos Estudos Brasileiros Sobre Leitura e Escrita Baseados no Paradigma de Equivalência”.
O grupo também apresentou o estudo em mesa redonda sobre “Iniciação científica e formação em psicologia: relatos de experiências”, coordenada pela professora Alessandra Rocha de Albuquerque durante o XX Seminário de Psicologia da UCB.
Como forma de contrapartida para a escola, foram realizadas palestras ministradas pela Prof. Dra. Lêda Gonçalves de Freitas para 1.100 estudantes de escolas públicas do DF com o tema “Como enfrentar o bullying”.
A pesquisa também gerou apresentações de pôsteres em diversos eventos: quatro pôsteres no 24° e cinco pôsteres no 25° Congresso de Iniciação Científica de Brasília; três apresentações de pôsteres no III Congresso da Escola de Saúde e Medicina da UCB; duas apresentações de pôsteres no I Pré-congresso da Escola de Saúde e Medicina da UCB; duas apresentações de pôsteres no XX Seminário de Psicologia da UCB; apresentação de pôster durante a 48ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo/RS; uma apresentação de trabalho no II Simpósio Nacional de Epistemologia Qualitativa e Subjetividade, realizado no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB); uma apresentação de trabalho no XI Colóquio de Psicologia Escolar da Universidade de Brasília (UnB).
O projeto também recebeu duas menções honrosas: ao pôster apresentado no Pré-congresso da Escola de Saúde e Medicina da UCB e ao pôster apresentado no 24° Congresso de Iniciação Científica de Brasília.
*Texto original: Profa. Dra. Cláudia Cristina Fukuda
**Edição e revisão: Thainá Salviato – Ascom/FAPDF
*** Imagens: arquivo do projeto
FAPDF
Granja do Torto Lote 04, Parque Tecnológico Biotic Cep: 70.636-000