Brasília é uma das maiores concretizações do urbanismo moderno, caracterizado por seus edifícios isolados, áreas verdes, esplanadas e integração entre o espaço interior e exterior. O impacto da nova capital brasileira dividiu a crítica arquitetônica nacional e internacional entre exaltação e rejeição. Após mais de 50 anos de sua inauguração, com o crescimento urbano por meio das cidades satélites planejadas, como os vazios modernos da paisagem de Brasília podem ser reconhecidos culturalmente por seus habitantes?
O projeto “(Re)configurações do vazio moderno na paisagem urbana em Brasília”, coordenado pela professora doutora Luciana Saboia Fonseca Cruz, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília (UnB), contou com a participação de vários professores, alunos de graduação (tanto de iniciação científica quanto de trabalho final de graduação), mestrado e doutorado que, durante mais de três anos, se envolveram nas atividades de pesquisa e extensão do projeto.
O objetivo da pesquisa foi discutir a paisagem planejada de Brasília a partir dos seus vazios. Esses vazios, que ora se revelam como parte dos espaços mais consolidados da cidade, ora aparecem como elementos potenciais de articulação entre as ocupações existentes, são partes fundamentais do processo de urbanização contemporâneo. “Isto porque a urbanização, desde a segunda metade do século XX, passou a configurar-se por meio de processos de dispersão urbana, ou seja, de ocupação territorial fragmentada, formando núcleos urbanos entremeados de vazios de diversas escalas e ordens. Os vazios, comumente interpretados como espaços desperdiçados, inúteis, perigosos, que ampliam distâncias, oneram o cotidiano e segregam, precisam ser revistos, reconceituação esta que perpassa, necessariamente, outros caminhos metodológicos’, explica a coordenadora.
O estudo foca no primeiro eixo urbanizado da paisagem da Brasilia-metropolitana, considerando a via de conexão entre o Plano Piloto e Taguatinga. A primeira parte analisada trata do Eixo Monumental e o espaço público da rodoviária como paisagem primeira do vazio moderno. O segundo recorte territorial segue o eixo da Estrada Parque Taguatinga (EPTG), pois trata-se da via agregadora de diversos núcleos urbanos construídos ao longo dos mais de 50 anos da capital (Setor de Indústria e Abastecimento (SIA); Regiões Administrativas do Guará e de Águas Claras; conjunto Habitacional Lúcio Costa; Setor de Mansões Park Way e Colônia Agrícola Vicente Pires).
Luciana Cruz destaca a importância das análises arquitetônicas e evolutivas da cidade, não apenas como forma de registrar sua dinâmica ao longo dos anos, mas como instrumento para o planejamento e a melhoria da utilização dos espaços coletivos. “As diversas manifestações de apropriação dos espaços vazios precisam ser reveladas e reinterpretadas por metodologias científicas, critérios e instrumentos inovadores que as incorporam na análise da paisagem urbana, e que sejam capazes de contribuir para o debate acadêmico, para a capacitação de técnicos da área de planejamento, e, assim, para a regulação de bases normativas para o planejamento urbano e intervenções urbanísticas e arquitetônicas no patrimônio”, afirma.
Metodologia – A pesquisa foi desenvolvida com base em quatro eixos metodológicos. São eles:
⇒ Investigar as discussões sobre metropolização, paisagem e apropriação social;
⇒ Construir estudos histórico-críticos sobre Brasília, coletar e analisar fontes primárias;
⇒ Analisar a dinâmica sócio-espacial que reconhece espacialmente a apropriação de seus habitantes;
⇒ Mapear as dinâmicas sociais cotidianas por estudo de espaços urbanos planejados dentro do movimento moderno em Brasília e os interstícios que conformam espaços vazios e construídos entre eles.
O projeto avaliou os instrumentos urbanísticos existentes com o objetivo de construir novos procedimentos metodológicos com ênfase na paisagem como elemento fundamental de estruturação do planejamento territorial do DF, cujos parâmetros serão determinantes para a configuração da paisagem urbana, bem como para a preservação do patrimônio natural e construído da cidade. Esses parâmetros foram aplicados e debatidos em vários eventos, incluindo palestras, oficinas de projeto e planejamento e debates abertos com a participação da sociedade.
A pesquisa recebeu apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), instituição vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do DF (SECTI-DF), por meio do Edital 03/2017 de Demanda Espontânea.
Confira o vídeo de apresentação do projeto aqui.
Texto: Luciana Sabioa F. Cruz
FAPDF
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