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FAPDF inaugura série “A Memória Científica do DF” com a trajetória de Mercedes Bustamante
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Bióloga e referência global em ecologia, Mercedes é a primeira homenageada da nova série que celebra pesquisadores científicos que transformam o DF
Mercedes Bustamante, professora titular da UnB e referência internacional em ecologia, é a primeira homenageada da série “A Memória Científica do DF”, lançada pela FAPDF. (Ascom/FAPDF)
Mercedes Bustamante sempre soube que havia algo de fascinante na ciência. Ainda criança, encantava-se com as aulas da disciplina e tinha curiosidade em entender como as coisas funcionavam — do nível celular à escala dos ecossistemas. “Acho que isso acabou me levando até a ecologia”, lembra. Foi essa inquietação que a conduziu a uma carreira de destaque nacional e internacional, unindo ciência, educação, políticas públicas e defesa do meio ambiente.
Professora titular da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes inaugura a série especial A Memória Científica do DF, produzida pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). A iniciativa tem como objetivo valorizar o legado de pesquisadoras e pesquisadores que contribuíram significativamente para o avanço da ciência, da tecnologia e da inovação no Distrito Federal.
Mercedes chegou a Brasília no início dos anos 1990, após concluir o doutorado em Geobotânica na Alemanha. A princípio, veio como professora visitante da UnB, mas logo foi aprovada em concurso no Departamento de Ecologia. “Vim e me apaixonei pelo Cerrado. Entender como esse sistema tão complexo funciona acabou se tornando o norte da minha atividade científica”, relembra.
Logo nos primeiros anos, a FAPDF teve papel essencial. Seu primeiro projeto financiado pela Fundação foi fundamental para a montagem de seu laboratório e estrutura de pesquisa, com aquisição de equipamentos ainda em uso. Um dos projetos mais significativos foi o PRONEX – Programa de Apoio a Núcleos de Excelência. “A FAP foi primordial para meu estabelecimento como pesquisadora na UnB”, destaca.
Ao longo da carreira, Mercedes coordenou estudos que combinam ciência básica e aplicada, como pesquisas sobre o impacto dos incêndios no bioma Cerrado, mudanças nos ciclos hídricos e estratégias de conservação aliadas ao desenvolvimento sustentável. É também uma das principais articuladoras do conhecimento sobre mudanças ambientais globais no país, tendo integrado painéis internacionais como o IPCC e plataformas nacionais de políticas climáticas.
Sua atuação extrapola os muros da universidade. Mercedes já ocupou cargos no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (2010–2013) e na CAPES, onde esteve em 2016 e retornou à presidência em 2023. Ela acredita que a presença de cientistas na formulação de políticas públicas é essencial: “A formação científica nos dá ferramentas importantes para a política: saber fazer boas perguntas, montar projetos sólidos, avaliar impactos. Isso faz falta na gestão pública.”
Hoje, sua maior preocupação é com o tempo. “Não temos mais 30 anos para implementar soluções. O meio ambiente não pode esperar. A janela até 2050 é curta, e o que fizermos agora vai definir o futuro”, afirma. Ela defende que agências como a FAPDF devem garantir estabilidade orçamentária, fomentar pesquisas interdisciplinares e apoiar projetos que conectem ciência e sociedade.
A cientista também reforça a importância da diversidade nos espaços científicos. “Se todas as pessoas vêm do mesmo contexto, elas verão os problemas da mesma forma. Precisamos de olhares diferentes para apontar novos caminhos”, afirma. Mercedes defende ambientes institucionais mais inclusivos e acolhedores, especialmente para jovens mulheres pesquisadoras: “Temos mais mulheres se formando, mas isso ainda não se reflete nos cargos de liderança. A inclusão verdadeira exige que essas vozes sejam ouvidas.”
Ao final da entrevista, Mercedes deixa uma mensagem à juventude: “Vocês têm clareza dos desafios e força para transformá-los. Acreditem nesse futuro possível. A ciência é feita por pessoas, para pessoas.”
E encerra com um desejo direto à instituição que a acompanhou por tantos anos:
“Vida longa à FAPDF — mas uma vida longa e estável. Com menos ‘quebra-molas’ ao longo do caminho. Porque, com estabilidade, o potencial da Fundação é exponencial.”
Assista AQUI ao primeiro episódio da série documental.
Reportagem: Gabriela Pereira